25 julho 2007

Francisco Sá Carneiro III

Artigo completo em O Acidental LONG PLAY

"Desde o Verão de 1975, poucos como Sá Carneiro foram tão claros e veementes na recusa deste regime. Denunciou o militarismo. Negou o marxismo. E declarou, para escândalo geral, não partilhar o objectivo de alcançar uma “sociedade sem classes”, então um dos dogmas mais sagrados do novo regime e aceite igualmente pelo PS, pelo PCP e por todas as facções do MFA.
Para as forças de esquerda nunca houve dúvidas: Sá Carneiro, por mais que falasse de “socialismo personalista”, não era dos deles. Também nunca reconheceram ao seu partido, rebaptizado como Partido Social Democrata em 1976, um lugar à esquerda."
"Mesmo assim, as esquerdas identificaram-no logo como o mais perigoso “agitador” daquilo que Mário Soares, em 1977, designava como a “onda das forças reaccionárias, para não dizer fascistas”."
"Não foram apenas as esquerdas que se irritaram com a linguagem e a atitude de Sá Carneiro. As direcções partidárias das direitas também não gostaram dele. É que muita gente à direita, habituada à existência tecnocrática e apolítica a que a reduzira o salazarismo, dispunha-se a colaborar com o poder militar e a esquerda governamental, tal como antes tinha colaborado com Marcello Caetano."
"Esta “liberalização” pela porta do cavalo nunca entusiasmou Sá Carneiro. Sabia ser impossível dar confiança aos empresários enquanto tudo continuasse dependente dos humores incertos do poder militar e esquerdista, que continuava a não querer condenar o Partido Comunista, nem a podar os seus feudos."
"Sá Carneiro não se limitou a reivindicar condições de crescimento económico – fê-lo em nome do que ele chamou “clareza democrática”: o dever dos políticos, em democracia, de apresentarem opções claras de governo, e o direito do povo de as sufragar em eleições.
Só assim, segundo Sá Carneiro, os políticos teriam autoridade real para cumprir os seus programas, e só assim o povo se poderia sentir verdadeiramente representado. Repare-se que nada disto tinha que ver com o “basismo” das esquerdas revolucionárias."
"Queria antes, por via representativa, obter uma real identificação da população com o poder, por forma a aumentar a autoridade e a eficácia desse poder. E isto porque, para ele, não havia na sua época outra possibilidade de dar ao poder autoridade e eficácia a não ser pela democracia."
(Continua)

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