22 dezembro 2005

Presidenciais... Louçã Hilariante!

Mário Soares foi à Madeira e encontrou-se com Alberto João Jardim "por cortesia". Até onde é que deve ir a cortesia de um candidato a presidente da República?

FL - Pessoas educadas são corteses, evidentemente, mas essa foi uma visita de campanha eleitoral, foi um acto político e deve ser avaliada como tal. Surpreende-me sempre que Mário Soares possa ser recebido efusivamente por Alberto João Jardim, recusar-se a falar do défice democrático e no dia seguinte falar da cultura autoritária de Cavaco Silva. Cavaco e Jardim são exactamente massa do mesmo pão. Com particularidades e grandes diferenças entre eles mas idênticos na forma de menorizar as pessoas. É uma visão elitista e autoritária da governação. Creio que sempre que encontrasse Alberto João Jardim sendo cortês com ele dir-lhe-ia sempre o que penso dele.
Como prevê o relacionamento entre Cavaco Silva e o Governo, o Parlamento e a Oposição?
FL - Cavaco tem procurado manifestar o seu grande apoio e proximidade ao Governo, como garantia de estabilidade, tem sido até dos candidatos que mais enfaticamente tem sublinhando esse aspecto. Ao mesmo tempo diz que se for eleito apresentará uma hierarquia de prioridades legislativas. Creio que as duas atitudes provam uma inconstância e até falta de clareza sobre o que é a função do chefe de Estado.
Como reage ao facto de Cavaco Silva ter classificado os ataques de que tem sido alvo resultado do "desespero" dos candidatos da Esquerda e recomendado "calma" aos seus adversários?
FL - Creio que Cavaco Silva tem uma cultura democrática deficiente porque entende que debate político são acusações. O que é mais natural é que cada candidato seja avaliado pelo seu passado e pelas suas propostas. Cavaco diz que quer ajudar o país a sair da crise só que tem uma visão de quem já esteve na torre de marfim e pensa que isso o isenta do debate.
Essa divisão do PS prejudica a Esquerda?
FL - Nitidamente, porque cria uma adesividade ao Governo que a maior parte dos eleitores de Esquerda contesta. A política do Executivo tem desprezado os problemas sociais do país, em particular, o desemprego e mantido o facilitismo das políticas económicas. Os candidatos que procuram favores de José Sócrates colam-se ao Governo. É essa a sua natureza. A divisão mostra que não há no PS nenhuma vontade de disputar a vitória a Cavaco.
Seria diferente se António Guterres, António Vitorino ou Freitas do Amaral tivessem avançado?
Facto é que nenhum deles avançou e foram hipóteses que se derrotaram a si próprias.
Tem 49 anos, é economista, professor universitário, deputado e coordenador da Comissão Política do BE. Convicto de que haverá segunda volta, Francisco Louçã considera que a vantagem de Cavaco Silva nas sondagens se prende com o descontentamento do eleitorado em relação ao Governo e à "estratégia derrotista" dos socialistas em relação a estas eleições. Ao JN, defende uma Presidência "mais activa" e interveniente sempre dentro dos limites constitucionais dos poderes do chefe de Estado e reconhece que a eleição também será "um teste" à sua própria popularidade.
Jornal de Notícias de 22-12-2005