E tu... desse lado. O que és? (II)

Silêncio… não há nada a acrescentar perante os números pois eles representam factos.

A memória de Portugal é uma história de Emigrantes e, eventualmente, o será de novo em breve. Fernando Pessoa escreveu:

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena?Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

E eles... eles o que são?

Ponderem.

JAC

"O contentor do Porto é a nossa vergonha, como os muros e a repressão armada de Melilla são de todos nós".

Eduardo Dâmaso, "Diário de Notícias", 8-12-2005

"Imigrantes esperam repatriamento em contentores no Porto

"Estamos mal, precisamos de ajuda", gritavam ontem à tarde à janela dos contentores pré-fabricados os três cidadãos russos que se mantêm à guarda do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. São imigrantes ilegais e esperam, no Centro de Instalação Temporária (CIT), o repatriamento para o país de origem. Queixam-se sobretudo do espaço exíguo e da falta de limpeza e de higiene.

Diário Notícias de 07-12-2005

Estrangeiros retidos mais de 40 dias no aeroporto do Porto

Dez estrangeiros têm estado retidos no Centro de Instalação Temporária (CIT) que serve o posto de fronteira do Aeroporto Sá Carneiro, no Porto. Num pré-fabricado misturavam-se homens e mulheres de nacionalidade brasileira, moldava, ucraniana, russa e romena - a situação mais grave é protagonizada por uma adolescente grávida, com um bebé de um ano e meio, que está ali desde 26 de Outubro.

...

As imagens, exibidas pela SIC, eram dramáticas. "Não me trazem um médico!", queixava-se, através das grades, uma romena de 15 anos, "grávida de gémeos". Uma outra punha a tónica na insegurança resultante da co-habitação de pessoas de ambos os sexos, vincando a existência de uma casa de banho para dez pessoas. As mulheres denunciavam falta de condições de higiene e deficiente alimentação. "Nós não matámos ninguém, não fizemos nada!", tornava a jovem romena.

Público de 07-12-2005